O vice-presidente do PT Washington Quaquá diz que são “zero” chances de plano B na eleição de 2022, dá como certa adesão do Centrão a um possível novo governo e descarta mea-culpa – “Lula virá com sangue no olho!” disse em entrevista
Com DW Brasil
O partido dos Trabalhadores por intermédio de seu vice-presidente Washington Quaquá, concedeu uma entrevista divulgada nesta segunda-feira 31, para o site DW Brasil, segundo ele, o candidato do PT é Lula que vem com sangue no olho, sem plano B e apoio de partidos de peso para derrotar Bolsonaro.
Quaquá afirmou que o PT “sofreu uma perseguição brutal”, mas é “um partido muito forte”. Ele descartou a necessidade de um mea-culpa por parte do partido e acrescentou que “qualquer organização humana comete equívocos”. Não tem como deixar de mencionar que a grande mídia comercial ajudou muito nessa fase “negra” que nem só o PT como a esquerda em geral teve seu desgaste.
Ao ser perguntado sobre plano B eme respondeu: Zero! Ele vem com sangue no olho. O velho está com vontade. Ele falou: “Eu não serei candidato para terminar a vida política com um mandato pior. Eu quero sair bem. Quero ser presidente da República para fazer um governo melhor do que eu fiz nos dois primeiros”.
Veja um trecho da entrevista concedida para DW Brasil:
O PT sofreu muito, nos últimos anos, com as acusações de corrupção. Como fica isso?
Qualquer organização humana comete equívocos. Mas nossos equívocos não são de corrupção. Claro que pontualmente você pode ter alguém que se envolva em casos de corrupção.
O PT sofreu muito uma perseguição brutal, mas é um partido muito enraizado. Dos seringueiros do Acre aos agricultores do Rio Grande do Sul tem petista. É um partido muito forte. Tem raiz. Não se acaba com um partido como o nosso só por uma campanha de marketing. A gente sofreu muito, mas se reergueu. E não há um símbolo maior dessa luta do que o Lula.
Não falta um mea-culpa do PT?
Acho que não. Um partido desse tamanho não faz mea-culpa. Faz na prática! 99% dos casos de corrupção do PT não foram casos de corrupção. O que o PT fez, e ele errou: nós fizemos caixa 2. E todo mundo no Brasil fez caixa 2, até os críticos da esquerda fizeram caixa 2. Na minha opinião, o PT devia ter dito naquela época, que “sim, nós fizemos caixa 2, e, sim, nós precisamos mudar o financiamento eleitoral brasileiro”.
Bolsonaro foi um erro de percurso para o Brasil?
É menos sociológico e mais analítico: as pessoas sempre esperam de um político que ele seja um pai. Na falta do pai bondoso, que era o Lula, foram no pai desgraçado, que bate e arrebenta – que é o Bolsonaro. Todos nós somos duas pessoas, nós temos o bom e o ruim dentro da gente.
Bolsonaro sempre dizia que está aqui para destruir, e não para construir. Ele é o capitão do mato, ele é a encarnação do defensor dos interesses dos fazendeiros do engenho colonial. É o Capitão Bolsonaro.
Quando Lula voltar, o Centrão vai deixar Bolsonaro e voltar para Lula?
Vai, claro. Tancredo Neves disse uma vez: entre a Bíblia e O capital, o PSD fica com o Diário Oficial. O centro no Brasil, entre a esquerda ou a direita, fica com o Diário Oficial, com quem tem a caneta. Não é só uma questão de corrupção estrito senso. O deputado da direita só se elege com as benesses, ele preciso botar uma ponte na cidade, construir um posto de saúde. Ele vive disso e precisa do governo.
Como seria esse terceiro mandato? Lula é mais radical ou mais moderado do que antes?
Ele está com muito mais experiência. Lula não é um radical de causas fora da realidade. São causas dentro da realidade. Ele negocia, ele sabe a correlação de forças, sabe a força que ele tem, e a força que ele não tem. Ele conhece a vida do povo, ele sabe que tem que ir aos poucos.
Acho que ele vai retornar a política da distribuição de renda através do aumento do salário mínimo acima da inflação, além da renda básica para uma parte grande da população. Mas o que é radical é uma política tributária que financie tudo isso. Não tem jeito: vamos taxar os ricos neste país. Os ricos não vão deixar de ficar ricos, mas deixar de ganhar absurdamente, para que parte da renda deles seja revertida para melhorar a vida da sociedade. Isso aqui não é um engenho colonial, isso aqui tem de ser um país.
Durante a pandemia, governos de países liberais, como os Estados Unidos, colocaram uma política assistencialista em prática, apoiando até grandes empresas. Precisamos de um estado mais forte?
O auxílio para o grande empresariado sempre existiu, olha a crise do Lehman Brothers, a crise imobiliária americana. Os bancos foram sustentados com dinheiro público, foram bilhões de dólares colocados para salvar o sistema financeiro. O Estado sempre existiu para os ricos. Mas o Estado não existe para a própria população. Salvo na época de ouro da Social-Democracia na Europa.
Por que não há uma social-democracia forte no Brasil e na América Latina?
Não somos um país, como vocês na Europa, onde a tribo fez a comunidade, que depois construiu as nações. Aqui não, aqui é uma invasão externa e estrangeira, para montar um negócio. O antropólogo Darcy Ribeiro dizia que isso aqui é um implemento colonial, e não um país. O Estado e a política nunca funcionaram para suprir as necessidades do povo.
Na Europa tem um sentido de nação, aqui só tem sentido de negócio. Para a burguesia brasileira, o estado é a força para garantir o negócio. Desde Getúlio Vargas nós tentamos construir uma nação. Mas sempre quando tentamos, houve golpes militares ou civis, no caso da Dilma, impedindo que o projeto de nação fosse construído.
Com informações da DW Brasil