“O golpe é contra o povo e contra a Nação. O golpe é misógino. O golpe é homofóbico. O golpe é racista. É a imposição da cultura da intolerância, do preconceito, da violência”, havia alertado Dilma há quatro anos
Fórum – Há exatos quatro anos, o Senado Federal dava seguimento ao processo de impeachment contra a ex-presidenta Dilma Rousseff, a primeira mulher eleita e reeleita ao cargo de chefe do Executivo Federal.
As alegações para o afastamento da mandatária eram frágeis: crime não havia, o que havia era uma conspiração.
Por isso mesmo, petistas em particular, e progressistas de um modo geral, chamaram o processo de golpe parlamentar, jurídico e midiático.
O golpe, segundo estes, começara a ser gestado quando o candidato do PSDB mineiro, Aécio Neves, não aceitou a derrota nas urnas no ano de 2014.
A vitória da petista foi apertada e o mineiro chegou a pedir a recontagem de votos.
O PSDB, rejeitado pelo povo por quatro vezes seguidas – perdendo duas vezes para Lula e duas vezes para Dilma -, ameaçou “travar” o governo de sua oponente vitoriosa, impedindo a presidenta eleita de governar.
Os barões da mídia, por sua vez, tratavam de envenenar a nação, agendando temas negativos para desgastar a imagem da presidenta, fazendo com que a opinião publicada, aos poucos, fosse se confundindo com a opinião pública.
A partir daí, os poderosos sentiram-se livres para dar cabo a um estranho processo de impeachment.
As paredes frias do Congresso Nacional começaram a ecoar sussurros nada republicanos, o próprio vice-presidente, Michel Temer (MDB), cochichava com seus comparsas para armarem uma conspirata, como revela o documentário de Petra Costa, Democracia em Vertigem, indicado ao Oscar de melhor documentário de 2020.
Em agosto de 2016, a farsa foi consumada: Dilma, uma mulher honesta, contra a qual não havia uma única prova de cometimento de crime, foi afastada do mandato por três meses.
Operando sempre nas sombras e na penumbra, os senadores concluíram por 61 votos a 20 que a presidenta seria destituída.
O processo iniciara na Câmara pelas mãos de Eduardo Cunha (MDB-RJ), um sujeito que foi preso logo em seguida, por corrupção passiva e evasão de divisas.
Ao discursar sobre sua saída da presidência, Dilma foi firme: “Hoje, o Senado Federal tomou uma decisão que entra para a história das grandes injustiças. Os senadores que votaram pelo impeachment e escolheram rasgar a Constituição Federal. Decidiram pela interrupção do mandato de uma Presidenta que não cometeu crime de responsabilidade. Condenaram uma inocente e consumaram um golpe parlamentar”.
Dilma disse ainda que “com a aprovação do meu afastamento definitivo, políticos que buscam desesperadamente escapar do braço da Justiça tomarão o poder unidos aos derrotados nas últimas quatro eleições. Não ascendem ao governo pelo voto direto, como eu e Lula fizemos em 2002, 2006, 2010 e 2014. Apropriam-se do poder por meio de um golpe de Estado”.
Michel Temer assumiu o poder cercado de homens brancos e endinheirados. E tratou logo de pagar a conta dos que o ajudaram a chegar à presidência.
Com a aprovação do teto de gastos, o novo governo congelou investimentos no Brasil por 20 anos, golpeando de forma brutal setores essenciais como saúde e educação.
Logo em seguida, seriam os trabalhadores a sentirem diretamente os efeitos do golpe quando parlamentares propuseram uma reforma que desmantelaria a proteção social que estava assegurada aos trabalhadores pela Consolidação das Leis do Trabalho (CLT).
Durante o período em que Temer esteve à frente do Executivo, os brasileiros foram acumulando perda de direitos. A nação estava órfã.
Há pouco tempo, em agosto de 2010, a revistas Istoé havia feito uma reportagem mostrando como os brasileiros se sentiam amparados pelos governos petistas. “Nunca fomos tão felizes”, dizia a chamada de capa.
O golpe arrancou o sorriso do rosto dos brasileiros. Dilma resumiu o que significaria aquele processo farsesco, quando de sua destituição: “O golpe é contra os movimentos sociais e sindicais e contra os que lutam por direitos em todas as suas acepções: direito ao trabalho e à proteção de leis trabalhistas; direito a uma aposentadoria justa; direito à moradia e à terra; direito à educação, à saúde e à cultura; direito aos jovens de protagonizarem sua história; direitos dos negros, dos indígenas, da população LGBT, das mulheres; direito de se manifestar sem ser reprimido”.
Após o afastamento da presidenta, Temer deu continuidade a uma agenda tão nefasta ao povo que praticamente inviabilizaria a continuidade de suas atrocidades sociais por um substituto eleito pelo povo.
Os brasileiros sentiam saudades dos tempos que eram felizes e sabiam.
Temer, ao deixar o poder, foi interceptado numa avenida e transferido do seu automóvel para um camburão da polícia e levado para o xadrez.
Os mesmos agentes que derrubaram Dilma começaram um processo de destruição da imagem Partido dos Trabalhadores e a perseguição jurídico-midiática do ex-presidente Lula.
“O golpe é contra o povo e contra a Nação. O golpe é misógino. O golpe é homofóbico. O golpe é racista. É a imposição da cultura da intolerância, do preconceito, da violência”, alertou a presidenta deposta.
Essa foi a chamada segunda fase do golpe. Porém, esticaram tanto a corda, criminalizaram tanto a política, que abriram passagem para o surgimento de Jair Bolsonaro, o homem que encarna todos os males timidamente executados por Temer.
Dilma havia alertado também naquele agosto de 2016: “O golpe não foi cometido apenas contra mim e contra o meu partido. Isto foi apenas o começo. O golpe vai atingir indistintamente qualquer organização política progressista e democrática”.
Dilma segue recebendo solidariedade de todos aqueles e aquelas que acreditam na democracia e prezam pelos valores expressos em nossa Constituição.
Confira, abaixo, repercussões nas redes sociais para marcar os 4 anos do golpe de 31 de agosto de 2016.